A publicidade e o público LGBTI+: quem lacra, lucra.

Segundo a pesquisa realizada pela Out Leadership, associação internacional focada no desenvolvimento de iniciativas para esse mercado, a disponibilidade financeira das pessoas LGBTI+ no Brasil gira próximo aos R$ 420 bilhões ao ano — o que corresponde a cerca de 10% do PIB do país – sendo um dos públicos mais rentáveis para os negócios.

Nos últimos anos, empresas vêm incluindo a representatividade LGBTI+ em seu discurso e até aí, tudo bem. O problema é que a comunidade LGBTI+ tem demandas muito além daquelas voltadas simplesmente ao consumo, e as pautas que dizem respeito a seus direitos PRECISAM ser consideradas pelas empresas.

Afinal, ninguém gosta daquele amigo que mal chegou e já quer sentar na janelinha. Empresas que querem mostrar inclusão, antes de tudo, devem ser inclusivas. Um movimento rodeado de resistência, não merece ser confundido como uma “oportunidade” de marketing, né?

Quem quer rir, tem que fazer rir.

Atualmente, as marcas já se ligaram na importância de sair de cima do muro e se posicionar em relação a temas progressistas como a diversidade. Claro, ainda existe um número grande de consumidores conservadores, mas o resultado tende a ser favorável.

Não só em relação à imagem das empresas que apoiam essa causa, mas sim em seu próprio faturamento. Agora, se a atitude se dá por conscientização ou aumento do lucro, isso é outra história.

O mundo é capitalista, e se isso é bom ou ruim eu não sei. Mas se a “roda do capitalismo” puder girar a favor da igualdade, educando a sociedade, diminuindo o preconceito, a discriminação e ajudando as empresas que tem o “culhão” de se posicionarem em um mundo ainda predominantemente conservador, amém.

Infelizmente, nem todas as empresas entendem a importância da representatividade nos dias atuais. E o que a galera LGBTI+ – como consumidores – podem fazer para inibir atitudes homofóbicas e dar o seu recado? Gastar o seu suado “pink money” com marcas que valorizam a sua existência. 😉

Close errado!

Pink Money ou dinheiro rosa, descreve o poder de compra da comunidade LGBTI+. O nicho foi visto como a galinha dos ovos de ouro para empresários, que aos poucos começaram a investir em produtos voltados diretamente para esse mercado.

A teoria é boa, mas na prática o bicho pega. Muitas empresas que levantam a bandeira da diversidade – quando se mira um crescimento nos lucros – esquecem de ajudar a comunidade LGBTI+ a diminuir seus índices de violência, assassinatos, abandono familiar, depressão, suicídio etc. E claro que eles não vão perdoar quem quiser usar sua luta como degrau, né monas?

Após o anúncio de que o presidente do complexo de lojas de departamento Riachuelo, Flávio Rocha, entrará junto com as bancadas evangélicas e católicas visando unir esforços para lutar contra pautas progressistas como casamento gay, aborto e o que chamam de “ideologia de gênero”, membros da comunidade LGBTI+ começaram a organizar um boicote à marca.

A empresa deu uma nota de esclarecimento, dizendo que repudia qualquer tipo de preconceito e que é a favor da inclusão da comunidade LGBTI+ nas suas lojas, tanto como consumidores quanto como funcionários. Mas não colou, a empresa lançou uma coleção em comemoração ao Mês do Orgulho LGBTI+ (junho) e foi julgada como oportunistas.

A comunidade LGBTI+ não está precisando dessa representatividade oportunista da mídia. O que ela precisa é de respeito. E esse problema não vai ser resolvido se continuar sendo permitido que usem a bandeira e a causa, sem antes saber da história e da luta. Afinal, no Brasil, o número de corpos LGBTs no chão continua a crescer da mesma forma.

Se esse grupo é o suficiente pra levar uma empresa a falência? Depende do segmento, claro. Mas com certeza tem gente o suficiente pra criar uma mancha na reputação destas empresas.

Põe a cara no sol, mona!

Considerada a maior do mundo e um dos principais eventos do calendário da capital paulista, a Parada do Orgulho LGBT+ vem atraindo mais marcas a cada edição – bem diferente de 20 anos atrás, quando o risco de cancelamento por falta de patrocínio era uma das maiores dores de cabeça para os organizadores.

A Prefeitura de São Paulo afirmou que a 23ª edição da Parada LGBT+ movimentou R$ 403 milhões na economia da cidade e reuniu 3 milhões de pessoas na Avenida Paulista, segundo os organizadores. E claro, com muitas ações de marketing, aproveitando o tema e a ocasião.

Reconhecido por suas campanhas irreverentes, o Burger King, voltou em 2019 como patrocinador master e trouxe, pela primeira vez, uma atração internacional: a Spice Girl Mel C e o grupo de drag queens Sink the Pink.

A vinda da cantora ao Brasil é uma parceria entre a rede de fast food e a plataforma de venda de passagens aéreas MaxMilhas. “Este ano, não apenas estamos de volta, como nos tornamos patrocinadores master do evento, para continuar reforçando que toda forma de amor é bem-vinda”, afirmou o diretor de Marketing e Vendas do Burger King Brasil, Ariel Grunkraut.

A gente já amava o BK, depois dessa a gente tem mais que um motivo – depois do lanche barato e gostoso – pra comer aquela batata e colocar um quilo de maionese. Tudo pela igualdade, claro.

Também conhecida por seu posicionamento a favor da diversidade, a cerveja Skol Beats, da AmBev, resolveu celebrar o mês do Orgulho LGBT+ reunindo quatro famosas drag queens: Lia Clark, Aretuza Lovi, Rita Von Hunty e Ícaro Kadoshi. Ao longo do mês de junho, as #Beatsqueen convidaram todos a se unirem para criar uma nova versão da música “Joga Bunda”.

Inspiradas no universo das drag queens, as embalagens representam “quatro elementos essenciais para quem quer brilhar na noite”: Charisma, Uniqueness, Nerve e Talent.

Claro que fora do mês do Orgulho LGBT+ ainda acontece muita coisa bacana, que mostra como as empresas estão empenhadas para incluir cada vez mais esse grupo na sociedade. Um exemplo de posicionamento correto e – claro – polêmico, foi a campanha de Dia dos Namorados do O Boticário, que continha casais gays nas suas peças publicitárias. Mostrando que a diversidade e o amor andam de mãos dadas!

A marca foi duramente criticada e alvo de propostas de boicote por parte dos conservadores. Mas para a alegria dessa galera, a empresa lacrou – no bom sentido – e teve um aumento significativo de lucro no auge de uma crise econômica brasileira.

 

E para combater o preconceito e mostrar que todos somos iguais independentemente da orientação sexual, em 2015, foi criada a campanha Frequência Gay, pela Lew’Lara\TBWA, para o Portal Mix Brasil em parceria com a rádio 89 FM – essa particularmente é uma das minhas preferidas.

A ação foi realizada em forma de pegadinha, na qual pessoas desconhecidas entravam em um táxi e, no rádio, o locutor falava sobre a descoberta da “frequência gay”, um tipo de frequência sonora que somente homossexuais conseguiriam ouvir.

Quando a música começa, o taxista contratado diz que não está ouvindo o som e alguns passageiros ficam constrangidos e afirmam que não estão escutando também.

No final, a rádio diz que “se você ouviu a música e ficou meio encanado, está na hora de rever seus conceitos de sociedade” e que não há uma “frequência gay”, pois somos todos iguais. A campanha incentiva pessoas a refletirem sobre a discriminação e reverem seus preconceitos – que muitas vezes nem sabiam que tinham.

No arco-íris cabe todo mundo <3

É claro que a publicidade não pode ser diretamente responsabilizada pelas estatísticas sobre a violência contra as pessoas LGBTI+, que colocam o Brasil em primeiro lugar no registro de crimes homofóbicos no mundo. Porém, é nosso trabalho dar visibilidade para aqueles que também fazem parte da sociedade, como consumidores e indivíduos.

Na verdade, a ação da publicidade parte de um processo reflexivo de constituição das representações no meio social: um anúncio só funcionará se veicular representações já constituídas, com as quais as pessoas possam se identificar!!!

A publicidade tem a capacidade de propagar essas representações cotidianamente a um grande número de pessoas, tornando-se um ator fundamental na constituição de imagens sobre determinados grupos.

Ainda temos muito a avançar na representação das pessoas LGBTI+, as críticas cada vez mais frequentes dos consumidores e movimentos sociais, fazem com que estejamos cada vez mais atentos.

A escolha pela mensagem pró-diversidade precisa vir de forma genuína, natural e alinhada com o que a empresa acredita e pratica. Campanhas de fachada tornam o posicionamento inconsistente, e isso será cobrado, cedo ou tarde.